1.10.2008

A saúde que vamos tendo

Alpedrinha, chegou, em tempos, a ter três médicos em regime de residência e assistência permanente, a qualquer hora do dia ou da noite. Hoje, tem apenas um.
A assistência médica é hoje em dia "constitucionalmente" prestada através da extensão de saúde com as dificuldades e custos que todos sobejamente conhecem.
A ordem geral é para fechar tudo o que não dê lucro! Se não há condições, então mais vale fechar! Esvaziam-se os serviços para a justificação do fecho! Aceita-se a decisão como uma fatalidade factual! As pessoas são hoje decididamente um número. E onde fica a obrigação da dotação dos meios para a supressão dessas carências que evitem a justificação para o encerramento? Que alternativas são estas? Como pode Alpedrinha defender-se de todas estas afrontas que constantemente lhe são colocadas?
Longínquas são as preocupações com a forma de assistir as populações nos cuidados de saúde.
A carta que aqui reproduzo, de leitura obrigatória, dirigida há vinte e nove anos ao Senhor Presidente da Assembleia da República pelo ilustríssimo alpetriniense de coração, Dr. Francisco de Sá Pereira, reflecte o empenho de um médico do interior real e profundo deste país, na tentativa de solucionar e satisfazer as necessidades de cuidados gerais de saúde, com uma proposta alternativa convicta ao então projecto do Serviço Nacional de Saúde.

Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República
LISBOA

O Senhor Deputado Arnault, concedeu ao Jornal do Fundão uma entrevista publi­cada no número 1659 de 27 de Outubro passado, deste semanário.

Por me parecer que a minha opinião poderá de certa maneira contribuir para a Instalação em Portugal de um verdadeiro S. N.S. peço licença para enviar a V. Ex.ª a
minha exposição crítica à entrevista do Senhor Deputado Arnault com o pedido de, se V. Ex.ª. a julgar válida, mandar tirar fotocópias do meu parecer que é também " A minha proposta" a distribuir por todos os Senhores De­putados.

A crítica:
O Senhor deputado Arnault depois do incensar a vida do sacrifício da maioria dos médicos, não lhes faz favor algum, não deixa a seguir de lhes chamar, a alguns, bem entendido, "Barões da medicina" e, "Latifundiários da Saúde", duas frases bombásticas "pour opater le bourgeois".
Na realidade os Barões deixaram de existir numa sociedade sem classes e ao que diz respeito aos Latifundiários só se os for buscar às cooperativas agrícolas do Alentejo.
O privilégio da competência tem de admitir-se.
Mas ainda que pareça estranho são os mais sabedores, os Barões de Sangue, que mais restringem os seus honorários.
­Que um número diminuto de médicos se aproveite dos "vícios do sistema para a exploração das misérias alheias" está certo.
Mas então não se culpem os médicos e antes os próprios doentes que na ânsia de recuperarem a saúde desprezam os conselhos dos mais avisados.

Os médicos e S.N.S.
Os médicos não contrariam o S. N. S. e o Senhor Deputado reconhece-o no decurso da sua entrevista.
Simplesmente desejam uma assistência eficiente da livre escolha do médico-doente, compatível com os recursos financeiros de que o Estado possa dispor.
E são na sua, maioria mais de 80% contrários à socialização da medicina nos moldes preconizados pelo Senhor Deputado.
A socialização da medicina só vingará num regime socializado que não é o caso, felizmente, de Portugal.
Para isso será necessário convencer o Povo mostrando-lhe com exemplos concretos os benefícios da tal Medicina socializada.

Exemplos de médicos não cumpridores.
A determinado passo da sua entrevista o ex-Ministro Arnault cita alguns casos de médicos não cumpridores, naturalmente reprováveis.
A par dos exemplos citados seria lógico que o Senhor então Ministro, procurasse por esse País fora um sem número do profissionais da medi­cina que pertem a saúde e até a vida recebendo como recompensa final uma reforma do 190$00 por mês e ainda com desconto de 48$80 para o caixão.

E quantas viúvas de médicos mendigam um almoço em casa de pessoas amigas?
Há maus médicos, os menos, como há maus políticos, os mais.
“A culpa é do sistema?"
Naturalmente.

Mas pretender modificar as pessoas com a modificação do sistema, afigura-se-me, pelo menos no que diz respeito a doentes, mera utopia.
“ Não há doenças, há doentes”.
Cada um reage à sua maneira.
Tanto enaltece o serviço do médico como o insulta, o bate e até o mata.
Esta é a triste realidade.

Serviço de Saúde fechado aos sábados e domingos.
Não me consta que isso seja verdade. Poderá haver uma certa restrição. Mas ainda aqui a medicina privada tem a sua virtude.
Por dever de ofício está presente a qualquer solicitação.

As Caixas e os Doentes.
"Se os políticos fossem doentes das Caixas teriam mais pressa de fazer cum­prir a Lei" e “o S.N.S. já funcionaria".Porquê?
Se entrassem no número dos 30 e mais doentes que se apresentam à con­sulta para o médico os observar em duas horas, naturalmente nem invocando os privilégios parlamentares, o que seria antidemocrático, seria, atendido razoa­velmente.
E aqui reside mais um dos vícios do sistema.
A culpa nunca foi dos médicos. Ninguém pôs cobro a este desaforo.
Algumas vezes ouvi esta frase elucidativa. "Vamos ali chatear o gajo".
Quando não lhos dava para insultar e até bater no médico. Bater e matar como o caso do Entroncamento.
O mínimo tempo em que se poderá ver por alto um doente é de 15 minutos. Exigir do médico a observação de mais de 8 doentes nas duas horas será um dos grandes erros do sistema. Mas não basta legislar. Os doentes querem. E se o médico os não atende não hesitam em o maltratar ou vir cá para fora propagandear a mentira. Insistir na manutenção das Caixas será portanto, persistir na asneira.

Radiografias e outros auxiliares de diagnóstico.
"Esperar meses por uma radiografia".
Claro, se um doente se lembra de apalpar o rabo às 2 horas da madrugada, mandar chamar o médico que constata a existência de uma hemorróida e de cam­bulhada exige "tirar uma chapa" para que os R.X. lhe digam o que tem, os respectivos serviços hão-de estar naturalmente pletóricos de trabalho. E nes­te caso, o mal não está só nos doentes, mas especialmente nos médicos.
A radiografia é um meio auxiliar de diagnóstico. Acima das análises e dos R.X. está um bom exame clínico. É esse exame que ditará ao médico a conduta a se­guir. Se o médico não usar este critério que os Mestres se não cansam de apontar, são montões de análises e radiografias atiradas para o lixo. 800.000 Contos de despesas aunciaram os propagandistas no começo da Nova República. O mesmo sucede com os medicamentos. Se a medicação não produz no mesmo dia, na mesma hora, o efeito desejado, o medicamento não presta e o mé­dico também não.

Em tempo, houve montões de comprimidos deitados fora pelas janelas do Hospital de Santa Maria.

Postos Clínicos.
Está certo e não constituem novidade. Há mais de 40 anos, no mesmo jornal da entrevista, já o signatário advogava a sua implantação onde se julgassem necessários. Vieram depois as Casas do Povo e serão estas instituições fascis­tas os neurones de toda a engrenagem sanitária a montar em Portugal. Com pe­quenos grupos de freguesias, três ou quatro conforme o número de habitantes, assistidas pelo seu médico residente numa delas e subsidiado pelo Estado com honorários capazes de incrementar alegremente a fixação.

"Modelos de S.N.S.”
"Inspiração no modelo Inglês".
Conheço muito bem o que se passa na Inglaterra, na França e nos Estados Uni­dos. Praticamente todos têm as suas virtudes o os seus defeitos.
Morre uma criança portuguesa em França, passando por 3 hospitais e um jovem de 20 e poucos anos na América que 2 Casas de Saúde se negaram a prestar-lhe assistência. No fundo, criminosa burocracia. O sistema Francês parece-me o mais prático. O doente vai ao médico que quiser, paga a sua consulta e vai depois à Caixa que imediatamente o reembolsa da despesa feita. Em Portugal o sistema existe. Simplesmente os serviços da Previdência não dispõem de verbas suficientes para de pronto reembolsar os doentes. E aqui vale a pena com­parar o que se passava no tempo do fascismo em que o Estado ia buscar verbas avultadas aos cofres sempre abarrotados da Previdência para suprir faltas prementes.
ADSE, ADME, e SAMS são exemplos de medicina convencionada e fiscalizada pelo Estado. Não precisamos pois, de ir lá fora buscar modelos.

Falta de médicos especialistas.
"Eu quero ir "ó pchalista".
É o pedido formulado pelos doentes não esclarecidos na roda diária do Clíni­co Geral. E nesta conformidade os "pchalistas" não chegam. Preparem-se bons Clínicos Gerais e 50% dos especialistas dispensam-se. Este assunto é porém discutível e carecido de largo esclarecimento em qualquer mesa redonda ou quadrada.

Contradição ou ambiguidade?
Na referida entrevista há uma estranha contradição do Senhor Deputado Arnault quando diz que "o S.N.S. não se pode fazer sem os médicos" depois de ter di­to que “os médicos não são os únicos nem talvez os mais importantes profis­sionais da saúde". Em que ficamos? Se os médicos não são os mais importantes profissionais da saúde, diga o Senhor Deputado Arnault quem os substitui. En­fim, elas aparecem e devemos ter a benevolência suficiente para as desculpar. Mas a arrogância do Senhor Deputado Arnault vai até ao ponto de menosprezar a importância da classe médica ao afirmar que o projecto de lei sobre o S.N.S. será aprovado segundo as directrizes do Partido Socialista que "serão as po­pulações que hão-de exigir do Governo o cumprimento da lei" etc. etc. Os mé­dicos em Portugal escolheram o candidato Dr. Gentil Martins para Bastonário da Ordem, não havendo, portanto, lugar para falar de "alguns médicos" quer sejam do Sul ou do Norte. A escolha foi feita democraticamente o representa a corrente a favor de um S.N.S. intervencionado. Se o Senhor Deputado Arnault não concorda com as razões apresentadas é a minha vez de lhe garantir que não irá contra a vontade de 80% dos médicos deste País.
Sobre as carreiras médicas, o assunto está largamente estudado, vem de muito longe e sobre elas me pronunciei em Coimbra no início da sua criação.
Sobre honorários, tudo dependerá dos serviços prestados.

Seja como for, não podemos compreender o pagamento de 14 meses, invenção portuguesa que nada justifica, originária de conflitos sociais que devemos a to­do o custo evitar.

O que fica por dizer é muito. Veremos se o bom senso preside aos debates que ora se
anunciam na Assembleia da República e se o Senhor Deputado Arnault conse­gue provar as suas controversas afirmações.
Os médicos portugueses estarão atentos.

----­ A MINHA PROPOSTA ----­

Má ou boa é feita do “saber de experiência feito" durante 52 anos de labor in­tenso, parecendo-me, por isso, eficiente, viável e profundamente humano.
Partamos das bases para as cúpulas, como agora se diz.
Cada freguesia, de Portugal terá a sua Casa do Povo, construída segundo moldes apropriados para o efeito.
Toda a actividade ali ficará centralizada.
Especialmente a assistência médica.
Agregados populacionais do 2 a 3 mil habitantes, terão o seu médico com resi­dência onde melhor convier, onde houver facilidades do alojamento e receberá um subsídio de fixação nunca inferior a 25.000$00"
Os médicos integrados no S.N.S., todos os que quiserem, não receberão dinheiro dos doentes - serviço gratuito.
Terão no seu consultório um livro do registo, o livro existe há mais de 25 anos e é da minha autoria, onde cada consulente apõe a sua rubrica por si ou pelos filhos menores que não saibam escrever ou ainda tratando-se de maiores anal­fabetos a colocação ela impressão digital do dedo indicador da mão direita, tu­do isto para efeitos do fiscalização.

No final de cada mês um funcionário do S.N.S. percorre os consultórios, veri­fica o número e qualidade de serviços, de honorários convencionados e passa o respectivo cheque a pagar na tesouraria de Finanças.
O serviço de enfermagem será assegurado por auxiliares treinados nos consultó­rios até que as Escolas de Enfermagem possam fornecer pessoal idóneo.
Dos consultórios os doentes passariam para os Hospitais Regionais, Distritais e Centrais, conforme as necessidades.
E dinheiro?
Será criado um Imposto Nacional de Saúde com incidência sobre todas as cole­ctas, variável conforme o quantitativo a despender em serviços e medicamentos, anualmente.
Como a saúde é o melhor bem da vida, estou absolutamente convencido que nin­guém regatearia este contributo, desde que fosse exclusivamente aplicado para o efeito.

Alpedrinha, 18 de Dezembro de 1978
Francisco de Sá Pereira

3.04.2007

Os nossos Correios

Passou no dia 6 de Janeiro mais um aniversário sobre a inauguração das novas instalações dos Correios em Alpedrinha. A efeméride foi ao tempo assinalada com o lançamento de um folheto alusivo à inauguração das novas instalações em edifício expressamente reconstruído e adaptado pela então Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais com a colaboração técnica dos Serviços de Edifícios e Mobiliário dos CTT por motivo da automatização da Rede Telefónica Nacional. Foi no ano de 1958 e no folheto, cuja imagem da capa do original aqui reproduzo, pode ler-se o seguinte:
Administração-Geral dos CTT tem a honra de inaugurar, com a festiva participação do povo de Alpedrinha, mais um edifício para CORREIO, remodelado pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, do Ministério das Obras Públicas, com a meticulosidade que lhe é peculiar. Prevista a automatização do serviço telefónico desta região para 1958, tornava-se necessário dotá-lo com instalações capazes de preservar a delicada aparelhagem que tal serviço exige. O edifício existente não comportava qualquer adaptação, e por outro lado não existiam na zona central do povoado terrenos vagos para construções. Felizmente, apareceu à venda um prédio antigo, vasto, bem situado, junto à estrada nacional, que o Correio-Mor inspeccionou em Julho de 1953, achando-o bem localizado. A aquisição fora sugerida pela Circunscrição de Exploração dos CTT em Castelo Branco, e pela Junta de Freguesia de Alpedrinha, ambas interessadas na condigna reinstalação do serviço do correio. Estudada a viabilidade de adaptação, adquiriu-se o prédio em 7 de Maio de 1954. Entretanto fizeram-se nos Serviços de Edifícios e Mobiliário dos CTT estudos para a reinstalação da estação, tendo em Outubro do mesmo ano sido enviado à D.G.E. o programa das obras a efectuar. O edifício, que a D.G.E. deu por reconstruído em Outubro de 1957, compreende no rés-do-chão instalações excepcionalmente amplas para a sala do público, sala de serviços, arquivo, casa de baterias eléctricas, depósito de material, sanitários e acesso ao 1.º andar; neste ficam a vasta sala das instalações telefónicas automáticas e a residência do chefe, com 7 divisões. A área é de 248m2 e o mobiliário novo da estação importou em 23 contos. A estação do correio de Alpedrinha data de 1892, ano em que foi elevado àquela categoria o posto de correio já existente. Funcionava então num edifício da Rua D. Jorge da Costa. Em 1900 foi transferida para outro na Rua do Deão Boavida, e daqui transitou para o da Rua Fria onde esteve até agora. A estação executava apenas serviço postal. O telefone, grande melhoramento nas comunicações locais, data de 15 de Setembro de 1941, dia cm que foi inaugurado o posto público na estação. O primeiro posto particular foi instalado em 1943. Actualmente a rede local compreende 39 postos particulares, 5 postes públicos e o serviço dispõe de 3 linhas de escoamento de tráfego. A Vila de Alpedrinha, no Concelho do Fundão, debruçada sobre a encosta leste da Serra da Gardunha, sede de uma freguesia de terras magníficas que produzem excelente azeitona, vinhos, cortiça, fruta e batata, e que da sua abundante pecuária ainda extrai queixo e lã, possui agora uma estação de correio que é digna da sua categoria de terra fértil e próspera, do ambiente pitoresco e acolhedor que oferece ao viajante, e das suas tradições de antanho, patentes em alguns monumentos que muito a enobrecem, como o monumental chafariz das seis bicas, construção de proporções grandiosas, e obra rara no género, a marcar a época faustosa de D. João V, a Casa da Câmara e o Pelourinho, ambos do século XVII, a característica Casa da Comenda com seus três torreões, a Casa do Picadeiro, e a casa onde, segundo a tradição, nasceu essa curiosa e enigmática figura da Renascença que foi D. Jorge da Costa, o Cardeal de Alpedrinha, (1406-1508), que dominou a política nacional, orientou ou executou a politica religiosa dos Descobrimentos e foi no seu tempo a figura eclesiástica de maior projecção europeia depois do Papa.
São passados 115 anos sobre a criação da Estação dos Correios em Alpedrinha. Com as políticas que têm sido seguidas pela sua administração, muitas foram e vão sendo as dúvidas quanto ao futuro dos Correios/CTT em Alpedrinha, sendo que é a única estação existente a sul da Gardunha.
Muitas serão certamente as estórias que podem ser contadas por quem ali serviu e pelos seus clientes.
Sobreviveu à onda de encerramentos que devassou o País. Hoje urge perguntar: Será que a Estação dos Correios de Alpedrinha vai escapar ao encerramento ?

8.31.2006

Testemunhos

Rebusquei algumas prateleiras e fui encontrar um documento dactilografado, que não resisto divulgar ainda que com a publicação de só alguns excertos, uma vez que o considero importante para o conhecimento público. É sem dúvida, mais um documento que visava colocar Alpedrinha na mira dos roteiros turísticos nacionais e que apontava para relevância da nossa Vila num contexto que ainda hoje procuramos.
O documento, que é omisso quanto à data da sua elaboração, contém alguns cortes, razuras e colagens nas suas 13 páginas de texto:


ÁLVARO DE GAMBOA - MÉDICO
ATRACTIVOS E BELEZAS DE ALPEDRINHA
JUSTOS COMENTÁRIOS

…Da nossa comunicação ao último Congresso das Beiras em 1953 – Alpedrinha Sala de Visitas do Turismo Nacional – extraímos os dados seguintes, que representam os atractivos e belezas da nossa terra e que reproduziremos nesta nova publicação, a bem do seu progresso turístico. Alpedrinha atravessada pela estrada nacional nº 18, está situada 285 qui­lómetros de Lisboa e a 32 de Castelo Branco. Galgando um dos contrafortes da Gardunha, donde se desfruta um dos mais vas­tos e grandiosos panoramas de Portugal, e atravessada a Cova da Beira, rica de largas e férteis várzeas, cercada de abundantes e variados pomares, o turista chegado está à Covilhã cidade industrial e centro de turismo da neve, num trajecto de 31 quilómetros até lá. Que, recostada a lindo refego da Serra e cheia de tradições imorredouras, o convidará na sua passagem obrigatória por tão encantadora terra, a descansar de longa ou curta viagem. As numerosas apreciações que deixamos inscritas como prólogo deste nosso tra­balho de elevados e conhecidos cultores do espírito e críticos de arte, uns felizmente ainda vivos, outros já falecidos, mas que deixaram nos nossos co­rações saudosas lembranças, testemunham bem o muito que Alpedrinha tem de be­lo nas mais variadas manifestações do pensamento e que ferem não só os nossos sentidos, mas também o nosso espírito se mostra como verdadeiro produto da inteligência humana, no puro âmbito da história do seu passado e das tradições que sintetizam os valores de antanho e o sentir da sua gente. E o que vamos dizer, baseado nos testemunhos que inserimos, bem demonstrará os atractivos que ela possui e as suas belezas incontestáveis.

...Assim, Alpedrinha alcandorada na face leste-sul da Gardunha a uma altitude de cerca de 560 metros e acariciada pelo sol logo ao seu despontar em horizonte longínquo, resguardada pelo norte e poente pela serrania que a contempla e a protege, ela tem, como foi bem dito - "bons ares e lugares; águas puras; frescas; clima suave e tépido; de ambiente aliciante e acolhedor”. Com estes requisitos que alma de mestre soube ver e que superiormente regis­tou sem exageros, mas com a verdade que lhe é própria, Alpedrinha pode aco­lher em si o turista que a visita, pois, como o Dr. Lopes Dias diz, “não tem grandes oscilações térmicas“ - a que nós acrescentaremos, nem nevoeiros e la­mas, atendendo principalmente à constituição granítica das suas terras, per­feitamente permeáveis e rapidamente absorventes das águas pluviais. “Perspectiva verdadeiramente bela e sombras acariciantes“ - como ainda bem disse o ilustre Delegado de Saúde de Castelo Branco, bom higienista e cultor do pensamento, a convidar o turista, ou os que a ela se acolhem no Verão, no intuito de repousarem de trabalhos fatigantes de meses e até de anos, são outras características do ambiente que Alpedrinha oferece e que se ufana de possuir. E tudo isto, como é natural, convida e atrai e são predicados que a salientam e que pode juntar a tantas outras qualidades, que num conjunto de beleza panorâmica e artística, fazem dela jóia apreciável e de inestimá­vel valor. Pois, vista passo a passo, com verdadeiro espírito observador e crítico, encontramos em cada recanto das suas ruas tortuosas e caracterís­ticas, elementos arquitectónicos de pura arte, que embelezam, a tornam di­gna de admiração e explicam bem as tradições que a cercam, e lhe dão nome na história, lembrando o seu vetusto passado de muitos séculos…

...E agora é necessário que se afirme e que todos saibam, que o Turismo é hoje um grande elemento para o progresso e desenvolvimento das nossas terras, fonte de riqueza e bem estar dos povos para levantamento do seu valor económico, sendo, sem dúvida, ao mesmo tempo um meio de cultura e de propaganda do país e das nossas terras. São estas, razões bastantes para que todos compreendam o seu valor máximo e o motivo de termos de cuidar em lhe dar elementos de vida e de realização. Esses elementos não os esqueceu já Alpedrinha, porém é preciso que se diga também que muitos devem vir do Estado só ele os pode conceber e realizar; no entanto, as iniciativas locais e individuais, para o seu desenvolvimento nas especialidades são também indispensáveis e na verdade muito elas podem fazer, mas é oportuno que o mesmo Estado as tenha na lembrança e lhes dê o patrocínio e o amparo próprios. Alpedrinha tem na realidade predicados que dentro dum justo orgulho pode colocar a benefício do Turismo, como ficaram indicados num âmbito comportável com a limitada exposição num escrito desta natureza, e que resumidamente assinalamos. Possui também já, devido a iniciativas particulares, de dois elementos que bem contribuem para que os turistas possam ser recebidos aqui em condições de se sentirem bem e poderem, assim, colher das belezas da terra, aquilo que os possa satisfazer dentro das mais variadas modalidades do pensamento e dos sentidos. No entanto, também dentro do que dissemos, há necessidade que o Estado assim o compreenda, dando-lhes a expressão do seu valor material e as possibilidades de vida para poderem conseguir num grau cada vez mais elevado, as suas finalidades".

Testemunhos:
  • “Passamos o dia lá, de rua em rua, de beco em beco… Eram as varandas, os patamares, os alpendres. Das coisas mais simples e recônditas, passámos aos monumentos com direito a lugar na história da arte… Também eu fiquei para sempre encantado com Alpedrinha vista por dentro”.
(Dr. Duque de Vieira, escritor e jornalista).
  • “O que tenho visto em Alpedrinha digno de admiração, constituía só por si o bastante para lhe chamar uma terra museu”.
(Nogueira de Brito, jornalista e arqueólogo em 1932).
  • “…não preciso ir a Alpedrinha para elaborar o meu relatório. Fui lá uma vez, o bastante para ficar bem vincada na minha memória toda a sua maravilhosa situação e tudo o que ali vi”.
(Dr. Carlos Arruda Furtado, inspector superior da Direcção Geral de Saúde, em sessão do Conselho Superior de Higiene).
  • “…quanta gente precisaria de vir aqui estudar para depois executar! … que pena não haver quem possa conservar e restaurar ruas de casario tão típico como este, sem necessidade de modernices confrangedoras”.
(Rev. Dr. Costa Lima, conferencista e crítico de arte, visitando Alpedrinha em 1951).
  • “…aqui e ali, florescem minúsculos jardins suspensos e onde, maravilhados, deparamos fundos rembrantescos de quadro, onde as casas mais parecem de sombra que de pedra e os séculos, íamos jurar, aprazaram encontro para entremostrar a alma do passado… O ar é fino e transparente, o céu puro e claro; e sente-se bater na terra e na gente escondida nos vales o velho coração de Portugal”.
(Dr. Jaime Cortesão, vernáculo escritor e poeta, em editorial do Primeiro de Janeiro de 16-06-1959).
  • “A vila de Alpedrinha, em especial, desfruta uma perspectiva verdadeiramente bela, de bons ares e lugares, sombras acariciantes, águas puras e frescas, sem grandes oscilações térmicas, um clima suave e tépido, de ambiente aliciante e acolhedor”.
(Dr. José Lopes Dias, Delegado de Saúde de Castelo Branco).


O Sr. Dr. Álvaro de Gamboa Fonseca e Costa, licenciado em medicina pela Universidade de Coimbra em 22 de Julho de 1907, radicou-se em Alpedrinha, sua terra natal, em 1913.
O Sr. Dr. Álvaro, como por todos era conhecido, foi na sua essência um benfeitor. Angariador de donativos em dinheiro, géneros e roupa para apoio aos mais desfavorecidos, oferecia o seu ordenado anual à Santa Casa da Misericórdia de Alpedrinha, instituição de que era médico.
Nos últimos tempos da sua vida, foi um cicerone apaixonado ao qual, à época, Alpedrinha muito deve a sua projecção.

8.02.2006

Visão do Futuro

Com uma forte dedicação, muito para além do dever profissional, o Sr. Dr. Francisco de Sá Pereira, foi para a sua terra adoptiva, o exemplo dos Grandes Homens do passado que pela sua acção muito honra Alpedrinha no presente.
A sua visão do futuro está bem expressa na brochura " A Quinta do Anjo da Guarda em Alpedrinha - A Sua Obra - O que é - O que poderá vir a ser" que nos deixou escrita em 1960, e que em jeito de homenagem aqui tenho a honra de transcrever:

O PARQUE RECREATIVO DO ANJO DA GUARDA
É UMA OBRA TURÍSTICA, ASSISTENCIAL E AGRÍCOLA

Alguém lhe chamou «fantasia».
Um Engenheiro Agrónomo, depois, de a guindar aos «píncaros da lua», baixou-a ao nível do «trivial».
Há quem lhe chame loucura, ruína, carolice e outras coisas mais.
Ora esta Obra, é pura e simplesmente «uma lição de Boa Vontade».
Lição para os descrentes.
«A fé move montanhas»
Tudo é realizável neste mundo.
Basta querer.
Tem uma divisa.
Morte ou Glória,
Ou perpetuará o nome do seu obreiro ou morrerá com ele.
E o coração deste obreiro, será arrancado do cadáver e ficará junto da Obra, como símbolo de quanto pode a Boa Vontade.
Sim, boa vontade.
Porque aqui não há riqueza. Há o labor de uma semana para recomeçar na seguinte. Sem desfalecimento, noite e dia em busca do necessário para continuar.
Quantos apertos, quantos vexames.
— Olha rapaz, hoje não há dinheiro trocado.
Volta amanhã.
Não havia dinheiro trocado nem por trocar.
Havia apenas cotão no fundo dos bolsos.
E a gente ri cá para dentro.
Riso amargo mas confiante no dia seguinte.
E o dinheiro aparece, milagre de Santo António, o meu Compadre três vezes.
Tem sido assim de há vinte e cinco anos a esta data.
De «suor e lágrimas» servindo-me da frase de Churchill, tem sido feita esta Obra.

 A Parte Turística compreende:

O CAMPO DE PATINAGEM «LUÍS ANTÓNIO»
Trinta e seis metros, por dezoito.
Rodeado de bancadas em anfiteatro, construídas de pedra tosca, com lotação para mil pessoas sentadas.
Falta construir as bancadas do topo sul e uma pérgula sobre uma fila de camarotes, cujo acabamento está dependente da autorização da Junta Autónoma das Estradas.
O seu nome vem do actual jogador de hóquei da Associação Académica de Coimbra, Luís António Matos de Sá Pereira, estudante de Medicina e foi-lhe oferecido como prémio do êxito que obteve no primeiro ano do liceu em 1951.
Nesta data, deu-se início ao desenvolvimento do Hóquei patinado no distrito de Castelo Branco, facto que convém acentuar para a história do desporto da região.
Nos anos de 1952-1953 e 1954 disputaram-se com invulgar animação e geral agrado do público, os campeonatos de Hóquei do distrito de Castelo Branco, tendo saído sempre vencedora a equipa de Alpedrinha.
Em: 1954 actuou no ringue a patinadora do Benfica Edite Cruz, por ocasião das festas do Anjo da Guarda.
Em fins de Agosto do mesmo ano, o jogador internacional Jesus Correia, deleitou a assistência com uma exibição de estilo.
Uma sanção injusta aplicada pela secção de Finanças do concelho do Fundão, paralisou o movimento desportivo.
Ao cabo de dois anos, a acção ganhou-se, mas o proprietário, desgostoso, desinteressou-se do assunto.
Ficaria bem ali uma tabuleta com os seguintes dizeres: Este campo está abandonado por excesso de zelo da Direcção de Finanças do distrito de Castelo Branco.
A PISCINA DESPORTIVA
Não tem nome, aguardando quem o mereça.
Construída em alvenaria e cimento, de forma rectangular, mede 33,33 m de comprimento por 16 m de largura, tendo começado a encher no dia 15 de Agosto de 1956.
O fundo, em rampa, primeiro suavemente inclinada numa extensão de 10 metros - zona de «não nadadores» de 1 m a 1,60 m - continua em declive mais acentuado, 11 m entre paralelas até uma zona de profundidade máxima de 5 metros.
Tem uma capacidade de cerca de um milhão, setecentos e cinquenta mil litros de água potável que vem do «Vale de Clérigos» em manilhas de 0,20 m de diâmetro e ainda de nascentes da Quinta do Anjo da Guarda, elevada por um motor Diesel.
Duas faixas de 0,70 m de largura separam um lava-pés de 1,25 m, constantemente alimentado por uma canalização de água de duas polegadas.
Seis escadas de acesso servem os nadadores, quatro em tubos de ferro e duas em degraus de cimento, à laia romana.
Um vestiário para Homens e Senhoras com divisões e instalações sanitárias apropriadas, asseguram o movimento balnear, prevendo-se o seu alargamento em caso de necessidade.
Sobre o vestiário estende-se uma ampla varanda alpendrada acessível por dupla escadaria, com duas divisórias nos topos que servirão de Bar e Bengaleiro num futuro próximo.
No topo sul da piscina ergue-se uma torre de saltos rudimentar com três metros e ao lado um trampolim de um metro.
O recinto é resguardado por uma cortina de tipo moderno, encimada por fina cantaria de Alcains.
O chão lajeado de xisto da Serra, toma-se fresco pelo relvado intercalar. O conjunto é agradável, de largos horizontes e situação privilegiada. Frequência selecta sem excluir a da gente modesta que assim adquire hábitos de sociedade.
Projecta-se para breve, uma piscina infantil por alargamento do lava-pés do topo Norte e a instalação de chuveiros de utilização obrigatória pré balnear.
Electrificação indispensável para o próximo Verão.
Mais tarde, uma torre de saltos em ogiva, com a altura máxima de cinco metros e as respectivas pranchas (fixas e ainda o isolamento da piscina por gradeamento em tubo, completarão aquilo que hoje constitui já motivo de orgulho para o povo de Alpedrinha e concelho do Fundão.
CAMPO DE TÉNIS
No enfiamento longitudinal da piscina e num plano inferior em dois metros de altura, estende-se um campo de ténis de tamanho médio, cuja terraplenagem está feita, prevendo-se o seu funcionamento para o ano de 1961.

PARQUE DE CAMPISMO
Há muito se pensa no estabelecimento de um parque desta natureza.
Não havia porém quaisquer normas oficiais.
Hoje essas normas estão mais ou menos descriminadas e susceptíveis de pôr em prática no parque recreativo do Anjo da Guarda.
Num plano inferior em cinco metros ao da piscina, estende-se um campo de três mil metros de superfície cuja terraplenagem está feita. O seu acabamento e povoamento de árvores apropriadas, será entregue a uma casa especializada, contando-se com a sua abertura no verão de 1961.
Pensa-se na construção de pequenas casas com as divisões apropriadas a vários grupos familiares. Serão de ocupação breve, no género dos Motéis americanos.
Um pequeno restaurante fornecerá alimentação sóbria para aqueles que não desejarem preparar as suas refeições.
Os campistas puros terão géneros alimentícios à sua disposição, horta, fruta, ovos, leite, manteiga, queijos, animais de capoeira, coelhos e carneiros, produzidos na quinta e vendidos aos preços correntes do mercado.
Mercearias de fina qualidade, conservas, fiambres e carnes ensacadas farão igualmente parte do fornecimento alimentar. O peixe fresco é de mais difícil aquisição.
Tudo porém se conseguirá se o campo tiver a frequência esperada.
Como recurso, em caso de grande afluência, serão postos à disposição dos Campistas, quatro rectângulos de 3000 m cada um, plantados de tangerineiras e cobertos de um fresco tapete de trevo branco.
PARQUE INFANTIL «MARIA FERNANDA»
Na extremidade sul do Parque de Campismo, projecta-se a construção de um recinto para diversão das crianças.
Um espelho de água ou uma piscina de contornos irregulares.
Baloiços, rodas giratórias, casinhas e uma grande gaiola com pássaros diversos.
Flores, muitas flores e árvores; formando pequenos bosques para jogar às escondidas.
«Maria Fernanda» será o seu nome em homenagem à licenciada em Medicina, Maria Fernanda Matos de Sá Pereira, pelo carinho e dedicação votados às crianças, herança paterna que gostosamente me apraz registar.
Quem sabe, talvez um dia, as mães de Alpedrinha, durante as horas de trabalho rural, possam entregar ali os seus filhos pequenos, à guarda de pessoas para o efeito preparadas.
De qualquer maneira, serão estabelecidos pequenos turnos de crianças pobres, da região, em regimen de Colónia de Férias, durante vinte dias.
É uma faceta do capítulo assistencial desta Obra.
SALÃO DE CHÁ
No plano superior à varanda da Piscina e no seguimento do topo Norte do Campo de Patinagem, está prevista a construção de um Salão de Chá, doze metros por oito, com a típica lareira portuguesa, de molde a poder ser frequentado no Inverno.
Servirá de salão de festas, de baile e talvez de Cinema.
No primeiro, andar, residência para o proprietário.
CLÍNICA DOS IRMÃOS «SÁ PEREIRA»
A ideia vem do início desta obra. Muitas vezes se falou na falta de um hotel em Alpedrinha.
Outras tantas se afirmou que o hotel se faria.
Sob que forma?
O meio não sustenta um estabelecimento hoteleiro durante todo o ano.
E então põe-se o problema.
Ou o hotel terá de fechar as portas a maior parte do ano por falta de hóspedes ou haverá que procurar maneira de manter o seu funcionamento constante.
O número de pessoas que hoje procuram um local de repouso, é cada vez maior.
É mesmo uma necessidade vital para o homem de trabalho dos grandes centros.
Nestas circunstâncias, pensa-se construir um edifício com rés-do-chão, primeiro e segundo andares, com cerca de trinta quartos e as respectivas acomodações de forma a poder receber hóspedes durante os meses de Julho, Agosto e Setembro.
Nos restantes meses do ano, este estabelecimento servirá como Clínica, com o seu bloco operatório, onde qualquer cirurgião, à escolha do doente, poderá fazer as intervenções cirúrgicas mais variadas.
Dado o incremento que estão tomando os serviços médico-sociais, julga-se a ideia de um futuro assegurado.
Supondo no entanto que assim não sucede.
Então surge uma outra modalidade.
A adaptação desta casa a Colégio para alunos de mentalidade débil, tão necessário num país onde nada no género se encontra.
O nome é um plágio da Clínica americana dos Irmãos Maio, célebre em todo o mundo.
Também começou assim, com modéstia e discrição.
Os irmãos Sá Pereira, existem.
Assim eles queiram servir a ideia do pai.
Se não quiserem...
Em pormenor diremos, que este hotel, clínica, casa de repouso, ou o que se convencionar chamar-lhe, será uma casa residencial, sem cheiro a enfermaria, onde cada pessoa, cada família, se sinta como se fosse na sua própria casa.
Quartos de largos horizontes, muito limpos, de mobiliário cómodo e vistoso embora modesto.
Comida sóbria, bem portuguesa sem as excentricidades da cozinha moderna.
Acessível a bolsas modestas, afinal o que falta por esse país fora.
Localizada junto à Estrada Nacional n.º 18, no primeiro plano à direita, se foi já campo de aterragem de um ministro demissionário, porque não há-de ser amanhã lugar de maiores surpresas?
PAVILHÃO DE ASSISTÊNCIA
Chamou-se assim a um edifício localizado de início, no quarteirão onde se tenciona hoje construir a Clínica.
Por discrição, para evitar exibicionismos e ainda por se julgar que ficaria melhor no meio da Quinta Nova, transferiu-se para «um quarto plano inferior, em relação à Estrada.
Assistência a quem?
Aos pobres das freguesias aquém Serra — Alpedrinha, Atalaia do Campo, Castelo Novo, Orca, Póvoa de Atalaia. Soalheira, Vale de Prazeres e ainda aos de Peraboa, minha terra natal.
Em que medida?
Tudo dependerá do auxílio dos poderes públicos e dos rendimentos ligados à exploração turística da Obra.
À fórmula — quando cada cidade, vila ou aldeia cuidar dos seus pobres, estará resolvido o problema da mendicidade — responde-se: Não se pretende acabar com os pobres da região, mas tão somente, concorrer na medida do possível para a aplicação prática da referida fórmula.
Como?
Um edifício: de dois pisos para homens e mulheres, em regimen de internamento livre.
Vivendo ligados à terra, como sempre viveram.
Sem fardeta e trabalhando voluntariamente em seu exclusivo bem estar.
Administração própria e cozinha a seu gosto.
Vacas leiteiras, galinhas, coelhos e porcos, a seu cuidado, forneceriam boa soma de alimentos indispensáveis.
Horta e fruta da quinta.
Os turistas dariam para o vestuário e para a mercearia.
E assim não custará fazer pagar a conhecidos e amigos.
E até cantar à guitarra como nos bons tempos de estudante.
Voz enrouquecida que chegará ao Céu.
O fogo implacável destruiu já o começo.
Novas paredes se levantarão com fé e perseverança.
A OBRA AGRÍCOLA
Compreende um pomar de dois mil citrinos, espalhados por tratos de terreno onde o trevo branco e violeta fornecem boa pastagem para o gado.
Mas esta quinta será ainda uma lição viva sobre os progressos da moderna concepção agrícola.
A mecanização apropriada à pequena agricultura, será posta em destaque pela aquisição de maquinaria adequada.
Animais reprodutores e viveiros de fruteiras comerciais à disposição dos visitantes.
Instalações agrícolas em pleno funcionamento e não apenas no papel e nas conferências agronómicas.
Numa palavra, procurar-se-á transformar esta quinta numa verdadeira Escola Agrícola.

Tudo isto necessita dinheiro, muito dinheiro, para a sua realização.
Iremos bater à porta, do S.N.I.
Pediremos o auxílio da Fundação Gulbenkian.
São necessários dois mil e quinhentos contos para a sua conclusão.
E ainda que o Estado, por via dos seus serventuários, continue a desconhecer esta Obra e até a hostilizá-la, mesmo assim ela continuará, até ao momento em que o seu proprietário tombar para sempre.

Alpedrinha, 20 de Novembro de 1960.

Francisco de Sá Pereira

Não foram os problemas económicos com que veio a confrontar-se, aliados ao alheamento das entidades governamentais e outras, e estou certo que este seu sonho teria sido concretizado. Todavia, Alpedrinha deve orgulhar-se do seu legado. O trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo seu herdeiro, Dr. Luis António, coloca este complexo turístico entre os melhores da nossa região, obrigando por isso a uma referência de qualidade.

Foto gentilmente cedida pelo Sr. Eng. Francisco de Sá Pereira (Filho)

7.02.2006

Razões de um título

Prefácio do Dr. José Vasco Mendes de Matos à brochura de Jaime Cortesão sob o título " ALPEDRINHA e as varandas da Gardunha" em edição do jornal «Beira Baixa» de 30-08-1964, composto e impresso na Gráfica de S. José e que se pode consultar na biblioteca de Alpedrinha, testemunho vivo da passagem de Jaime Cortesão pela nossa Vila:

UMA LEGENDA PARA ALPEDRINHA
Sintra da Beira, já lhe chamaram.
A designação indicia o prestígio de Sintra na época romântica e, daqui, se poderá situar, no tempo, a legenda.
Mas, para além da intenção elogiosa do seu anónimo autor, a comparação não é válida.
A vila tem uma personalidade própria e vê-se que esta é o produto da confluência de correntes eruditas e populares.
A arquitectura concretiza, com clareza, esta afirmação. Ao lado do manuelino das portas e janelas, do barroco da Casa do Picadeiro, do portal renascença da Capela de Santa Catarina, encimado pelo brasão de D. Jorge da Costa, Cardeal de Alpedrinha, o poderoso prelado português da intimidade dos Papas e dos Reis do seu tempo, encontramos a habitação rural típica desta zona da Beira Baixa — casas de granito, de loja e um andar, com varanda de madeira e balcão de pedra, integradas na paisagem e no modo de viver das gentes, e onde os vasos com flores põem uma nota de cor na sobriedade da concepção.
E o mesmo se diga do artesanato. Ao lado dos móveis de estilo fabricados pelas famílias Fonseca e Pinto — o pai dos actuais representantes da família Pinto estava autorizado a usar o título de marceneiro da Casa Real — os ferros forjados moldados com amor por mestre Simão Rafael e as linhas puras da louça preta do oleiro de que poucos conhecem o nome, na tradição corporativa do artesanato português.
Situada a meia encosta da Serra da Gardunha, a vila domina toda uma vasta paisagem, em que se recorta o cabeço de Monsanto e, lá mais longe, as serranias de Espanha. Para o sul, alveja Castelo Branco e, em todo este largo espaço, destacam-se, com uma nitidez de «maquette», as estradas e os caminhos vicinais, as povoações do campo, as manchas verdes de pinhal, o cinzento prateado das oliveiras, os casais da pequena exploração agrícola e a planície cor de terra, que se estende a perder de vista. Para quem queira visitar grande parte da Beira Baixa - até agora injustamente ignorada pelo turismo português — Alpedrinha é o sítio indicado.
A meio caminho entre as duas cidades da província, com a Serra da Estrela, Monsanto, Monfortinho, Idanha-a-Velha e Penamacor a pouco mais de uma hora de distância, com Castelo Novo, a floresta e a própria sede do concelho a dois passos, de clima excelente, sem humidade excessiva e pequenas amplitudes térmicas, no centro do mais importante eixo de comunicações ferroviárias e rodoviárias da região, Alpedrinha está indicada para zona de turismo de permanência de média altitude.
A este propósito, assinale-se a existência da Estalagem de S. Jorge e da piscina do Parque Luiz António. Duas iniciativas particulares de tão alto interesse que, só por si, já modificaram o estilo de vida dos que vêm passar férias a Alpedrinha.
Elas devem-se, exclusivamente, ao espírito de iniciativa e de persistência, sem desânimos, dos seus proprietários, respectivamente, D. Maria do Carmo Falcão Tarouca e Dr. Francisco de Sá Pereira.
É pena que as Termas da Touca não tenham quem as desenvolva e proteja.
E pena é, também, que os organismos turísticos oficiais nada tenham feito, até aqui, por Alpedrinha.
Mas... isto é outra história que não faz parte desta legenda Jaime Cortesão, que no seu regresso do Brasil, percorreu Portugal de norte a sul, dedicou a Alpedrinha uma página inesquecível do seu talento de homem culto e escritor de raça.
Refiro-me ao artigo «Alpedrinha e as varandas da Gardunha», inicialmente publicado no jornal «O Primeiro de Janeiro» e, posteriormente, transcrito no «Jornal do Fundão».
Bom seria que tal artigo fosse impresso, em separata, de condigna apresentação gráfica. Ele ficaria a constituir a mais bela legenda para Alpedrinha.
Aqui fica a sugestão para quem possa e queira levá-la a cabo.

José Vasco Mendes de Matos
(Artigo publicado no jornal «Beira Baixa» de 30-8-1964)

9.06.2005

Varanda da Gardunha ou Sintra da Beira


Mais um contributo para a divulgação da Vila de Alpedrinha, recheada de património edificado de valor histórico, terra natal do célebre Cardeal D. Jorge da Costa - Cardeal de Portugal, ou "Cardeal de Alpedrinha" como gostava de ser dar a conhecer em Roma, "Terra da Longevidade" e capital universal do "Bem Haja" assim denominada pelo Historiador Doutor José Hermano Saraiva.

Vila de Alpedrinha - Identidade


Orago: São Martinho

População: Cerca de 1.200 habitantes

Actividades Económicas: Agricultura e Comércio

Festas e Romarias: Espírito Santo, Santo António, São João, Mártir São Sebastião, Santo Anjo da Guarda.


Património Cultural e Edificado: Chafariz D. João V, Palácio do Picadeiro, Pelourinho, Cruzeiro, Igreja matriz, Igreja da Misericórdia, Capela do Santo Anjo da Guarda, Capela do Menino de Deus, Capela do Mártir de São Sebastião, Capela de Santa Catarina (do Leão), Capela do Senhor da Oliveira, Capela do Espírito Santo, Capela de Santo António, Edifício dos Paços do Concelho.

Outros locais de interesse turístico: Calçada Romana, Piscinas, Museu de Embutidos da Santa Casa da Misericórdia, Museu de Arte Sacra da Igreja Matriz, Museu Etnográfico da Liga dos Amigos.

Gastronomia: Cabrito Estonado, Leitão Assado, Perdiz de Escabeche, Couves do Lagar, Biscoitos de Azeite, Esquecidos, Empadas, Cristas, Tortas, Lampreias de Ovos.

Artesanato: Embutidos, Trapologia.

Colectividades: Teatro Clube de Alpedrinha, Liga dos Amigos de Alpedrinha, Casa do Povo,  Associação de Caçadores "Os Pangalunas", AZA-Grupo de Bombos "Zabumbas de Alpedrinha", Gardunha Airsoft Team - GAT.
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Restaurantes: Restaurante "Papo d'Anjo".

Hóteis/Pensões/Apartamentos:  Casas de Alpedrinha "Bungalows" da Qta do Anjo da Guarda.

Cafés/Bares: Café Central, Café Moisés, Café Sintra da Beira, Bar O Álamo, Bar O Cardeal.

Serviços: Ensino do 1º e 2º Ciclos, Creche e Jardim de Infância, Escola de Ensino Primário, Lar de 3ª Idade, Centro de Dia, Escola de Música, Extensão de Saúde/Posto Médico, Farmácia, Instituição Bancária, Bombas de Combustíveis, Estação de Correios/CTT, Serviços de Táxi, Estação de Caminhos de Ferro, Piscinas.