8.31.2006

Testemunhos

Rebusquei algumas prateleiras e fui encontrar um documento dactilografado, que não resisto divulgar ainda que com a publicação de só alguns excertos, uma vez que o considero importante para o conhecimento público. É sem dúvida, mais um documento que visava colocar Alpedrinha na mira dos roteiros turísticos nacionais e que apontava para relevância da nossa Vila num contexto que ainda hoje procuramos.
O documento, que é omisso quanto à data da sua elaboração, contém alguns cortes, razuras e colagens nas suas 13 páginas de texto:


ÁLVARO DE GAMBOA - MÉDICO
ATRACTIVOS E BELEZAS DE ALPEDRINHA
JUSTOS COMENTÁRIOS

…Da nossa comunicação ao último Congresso das Beiras em 1953 – Alpedrinha Sala de Visitas do Turismo Nacional – extraímos os dados seguintes, que representam os atractivos e belezas da nossa terra e que reproduziremos nesta nova publicação, a bem do seu progresso turístico. Alpedrinha atravessada pela estrada nacional nº 18, está situada 285 qui­lómetros de Lisboa e a 32 de Castelo Branco. Galgando um dos contrafortes da Gardunha, donde se desfruta um dos mais vas­tos e grandiosos panoramas de Portugal, e atravessada a Cova da Beira, rica de largas e férteis várzeas, cercada de abundantes e variados pomares, o turista chegado está à Covilhã cidade industrial e centro de turismo da neve, num trajecto de 31 quilómetros até lá. Que, recostada a lindo refego da Serra e cheia de tradições imorredouras, o convidará na sua passagem obrigatória por tão encantadora terra, a descansar de longa ou curta viagem. As numerosas apreciações que deixamos inscritas como prólogo deste nosso tra­balho de elevados e conhecidos cultores do espírito e críticos de arte, uns felizmente ainda vivos, outros já falecidos, mas que deixaram nos nossos co­rações saudosas lembranças, testemunham bem o muito que Alpedrinha tem de be­lo nas mais variadas manifestações do pensamento e que ferem não só os nossos sentidos, mas também o nosso espírito se mostra como verdadeiro produto da inteligência humana, no puro âmbito da história do seu passado e das tradições que sintetizam os valores de antanho e o sentir da sua gente. E o que vamos dizer, baseado nos testemunhos que inserimos, bem demonstrará os atractivos que ela possui e as suas belezas incontestáveis.

...Assim, Alpedrinha alcandorada na face leste-sul da Gardunha a uma altitude de cerca de 560 metros e acariciada pelo sol logo ao seu despontar em horizonte longínquo, resguardada pelo norte e poente pela serrania que a contempla e a protege, ela tem, como foi bem dito - "bons ares e lugares; águas puras; frescas; clima suave e tépido; de ambiente aliciante e acolhedor”. Com estes requisitos que alma de mestre soube ver e que superiormente regis­tou sem exageros, mas com a verdade que lhe é própria, Alpedrinha pode aco­lher em si o turista que a visita, pois, como o Dr. Lopes Dias diz, “não tem grandes oscilações térmicas“ - a que nós acrescentaremos, nem nevoeiros e la­mas, atendendo principalmente à constituição granítica das suas terras, per­feitamente permeáveis e rapidamente absorventes das águas pluviais. “Perspectiva verdadeiramente bela e sombras acariciantes“ - como ainda bem disse o ilustre Delegado de Saúde de Castelo Branco, bom higienista e cultor do pensamento, a convidar o turista, ou os que a ela se acolhem no Verão, no intuito de repousarem de trabalhos fatigantes de meses e até de anos, são outras características do ambiente que Alpedrinha oferece e que se ufana de possuir. E tudo isto, como é natural, convida e atrai e são predicados que a salientam e que pode juntar a tantas outras qualidades, que num conjunto de beleza panorâmica e artística, fazem dela jóia apreciável e de inestimá­vel valor. Pois, vista passo a passo, com verdadeiro espírito observador e crítico, encontramos em cada recanto das suas ruas tortuosas e caracterís­ticas, elementos arquitectónicos de pura arte, que embelezam, a tornam di­gna de admiração e explicam bem as tradições que a cercam, e lhe dão nome na história, lembrando o seu vetusto passado de muitos séculos…

...E agora é necessário que se afirme e que todos saibam, que o Turismo é hoje um grande elemento para o progresso e desenvolvimento das nossas terras, fonte de riqueza e bem estar dos povos para levantamento do seu valor económico, sendo, sem dúvida, ao mesmo tempo um meio de cultura e de propaganda do país e das nossas terras. São estas, razões bastantes para que todos compreendam o seu valor máximo e o motivo de termos de cuidar em lhe dar elementos de vida e de realização. Esses elementos não os esqueceu já Alpedrinha, porém é preciso que se diga também que muitos devem vir do Estado só ele os pode conceber e realizar; no entanto, as iniciativas locais e individuais, para o seu desenvolvimento nas especialidades são também indispensáveis e na verdade muito elas podem fazer, mas é oportuno que o mesmo Estado as tenha na lembrança e lhes dê o patrocínio e o amparo próprios. Alpedrinha tem na realidade predicados que dentro dum justo orgulho pode colocar a benefício do Turismo, como ficaram indicados num âmbito comportável com a limitada exposição num escrito desta natureza, e que resumidamente assinalamos. Possui também já, devido a iniciativas particulares, de dois elementos que bem contribuem para que os turistas possam ser recebidos aqui em condições de se sentirem bem e poderem, assim, colher das belezas da terra, aquilo que os possa satisfazer dentro das mais variadas modalidades do pensamento e dos sentidos. No entanto, também dentro do que dissemos, há necessidade que o Estado assim o compreenda, dando-lhes a expressão do seu valor material e as possibilidades de vida para poderem conseguir num grau cada vez mais elevado, as suas finalidades".

Testemunhos:
  • “Passamos o dia lá, de rua em rua, de beco em beco… Eram as varandas, os patamares, os alpendres. Das coisas mais simples e recônditas, passámos aos monumentos com direito a lugar na história da arte… Também eu fiquei para sempre encantado com Alpedrinha vista por dentro”.
(Dr. Duque de Vieira, escritor e jornalista).
  • “O que tenho visto em Alpedrinha digno de admiração, constituía só por si o bastante para lhe chamar uma terra museu”.
(Nogueira de Brito, jornalista e arqueólogo em 1932).
  • “…não preciso ir a Alpedrinha para elaborar o meu relatório. Fui lá uma vez, o bastante para ficar bem vincada na minha memória toda a sua maravilhosa situação e tudo o que ali vi”.
(Dr. Carlos Arruda Furtado, inspector superior da Direcção Geral de Saúde, em sessão do Conselho Superior de Higiene).
  • “…quanta gente precisaria de vir aqui estudar para depois executar! … que pena não haver quem possa conservar e restaurar ruas de casario tão típico como este, sem necessidade de modernices confrangedoras”.
(Rev. Dr. Costa Lima, conferencista e crítico de arte, visitando Alpedrinha em 1951).
  • “…aqui e ali, florescem minúsculos jardins suspensos e onde, maravilhados, deparamos fundos rembrantescos de quadro, onde as casas mais parecem de sombra que de pedra e os séculos, íamos jurar, aprazaram encontro para entremostrar a alma do passado… O ar é fino e transparente, o céu puro e claro; e sente-se bater na terra e na gente escondida nos vales o velho coração de Portugal”.
(Dr. Jaime Cortesão, vernáculo escritor e poeta, em editorial do Primeiro de Janeiro de 16-06-1959).
  • “A vila de Alpedrinha, em especial, desfruta uma perspectiva verdadeiramente bela, de bons ares e lugares, sombras acariciantes, águas puras e frescas, sem grandes oscilações térmicas, um clima suave e tépido, de ambiente aliciante e acolhedor”.
(Dr. José Lopes Dias, Delegado de Saúde de Castelo Branco).


O Sr. Dr. Álvaro de Gamboa Fonseca e Costa, licenciado em medicina pela Universidade de Coimbra em 22 de Julho de 1907, radicou-se em Alpedrinha, sua terra natal, em 1913.
O Sr. Dr. Álvaro, como por todos era conhecido, foi na sua essência um benfeitor. Angariador de donativos em dinheiro, géneros e roupa para apoio aos mais desfavorecidos, oferecia o seu ordenado anual à Santa Casa da Misericórdia de Alpedrinha, instituição de que era médico.
Nos últimos tempos da sua vida, foi um cicerone apaixonado ao qual, à época, Alpedrinha muito deve a sua projecção.

2 Comentários:

Às 05/09/2006, 18:29:00 , Blogger Fernando Pires disse...

Para além da curiosidade das afirmações que, ilustres personalidades desse tempo, fizeram acerca de Alpedrinha, esta postagem serviu também, para dar a conhecer quem foi o Sr. Dr. Álvaro Gamboa. Creio que este blogue tem esta particularidade de nos informar acerca de personalidades importantes que outrora habitaram a nossa vila e o contributo que deram para a Alpedrinha que temos hoje.
Sr. Eduardo, parabéns por isso.
1 abraço.

 
Às 16/10/2006, 20:50:00 , Blogger oasis dossonhos disse...

Amigo
Aprende-se lendo este blogue intemporal,
é um bálsamo. Bem Hajas por nos dares momentos de tanta qualidade. És um Senhor! Abraço
Luís Filipe Maçarico

 

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